terça-feira, 15 de junho de 2010

Tecendo a manhã João Cabral de Melo Neto

"Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos."
(João Cabral de Melo Neto - Tecendo a manhã)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Leitura

"[...] instrumento de reprodução, mas também espaço de contradição, a leitura é, fundamentalmente, processo político. Por isso, aqueles que formam leitores [...] desempenham um papel político que poderá estar ou não comprometido com a transformação social, conforme estejam ou não conscientes da força de reprodução e, ao mesmo tempo, do espaço de contradição presentes nas condições sociais da leitura, e tenham ou não assumido a luta contra aquela [força de reprodução] e a ocupação deste [espaço de contradição] como possibilidade de conscientização e questionamento da realidade em que o leitor se insere." (SOARES, Magda Becker. As condições sociais da leitura. In.: ZILBERMAN, Regina & SILVA, Ezequiel Theodoro da. (orgs.). Leitura: perspectivas interdisciplinares, 2005, p. 28)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Língua (portuguesa)

"Dois fatores são determinantes para que sobreviva com tanta intensidade a concepção ingênua de leitura. O primeiro é o mascaramento da dimensão política da leitura, que permite que qualquer leitura possa ser considerada boa. O segundo, diretamente articulado ao primeiro, é a desconsideração do objeto sobre o qual incide a leitura: ao se considerar o ato em si de ler, desconsidera-se o fato de que se lêem textos e que textos são discursos que encerram representações de mundo e sociedade."
(fragmento do livro Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação de Luiz Percival Leme Britto p. 106)
Sem pretensões acadêmicas, mas com o objetivo (primeiro) de pensar/refletir as dimensões (amplas dimensões!) da nossa língua - herança dos nossos colonizadores -criamos este espaço. De forma consciente ou não nos utilizamos da língua (dita portuguesa) em circunstâncias múltiplas em nosso dia a dia: no mercado, na escola, no shopping center, em casa...
Para nos relacionarmos, para nos expressarmos... falando ou escrevendo... às vezes, de acordo com a prescrição normativa, às vezes, fora dos padrões pré-estabelecidos. Mas, será que paramos (nem que seja por alguns segundos!) para refletirmos acerca da utilização da língua que "rege" o nosso contexto socio-cultural desde o dia em que fomos concebidos?
Essa é a ideia...
Não estaremos, por tanto, fechados a outros assuntos tidos como relevantes ... mesmo porque a língua e a linguagem permeiam todo e qualquer assunto, desde o futebol até a política...

As PALAVRAS não são neutras

"As palavras não são neutras, a língua não é neutra. A ideia de que as palavras nomeiam e, simplesmente porque nomeiam, o sentido está dado - de que elas não são prenhes de sentidos outros além daqueles que eu supunha tão ingenuamente -, essa ideia faz com que eu seja traído pela língua, seja manipulado pela língua. [...]
O que posso fazer - ao invés de tentar escapar da rede de significado que as palavras constituem -, o que posso fazer, escutando a advertência do poeta Drummond de que 'sob a pele das palavras, há cifras e códigos', é buscar a consciência desse processo e de certos jogos possíveis de serem criados e, desconstruindo-os, evitar algumas ciladas. "
(fragmento do livro Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação de Luiz Percival Leme Britto p. 59 e 61)